"No século 19, o rei Leopoldo II, da Bélgica, recebeu o Congo como sua
propriedade privada, pessoal – uma superfície de quase 2,4 milhões de
quilômetros quadrados. O
Congo foi um grande provedor de borracha. Leopoldo II exigiu de cada
pessoa que extraísse uma determinada quantidade de látex. Se essa
quantidade não fosse atingida, a pessoa tinha a mão cortada. Com todas
as infecções e hemorragias, 10 milhões de congoleses morreram. Em 1960,
quando o país conquistou a independência, o mesmo governo belga não
aceitou a perda das minas de Katanga e deflagra uma guerra de secessão
dessa região.
O conflito atual
A guerra que recomeçou hoje e já dura mais de 10 anos é também pelas
riquezas do Congo. Não há grupos que queiram controlar o território,
não é uma guerra entre tribos, raças, religiões ou mesmo etnias. É uma
guerra pelo controle das minas de coltan e de cassiterita, minérios
utilizados na fabricação de telefones celulares e nos laptops. Há
multinacionais interessadas em obter esses minerais. Classifico-a como
uma guerra inútil, porque é possível obter essas matérias-primas sem
assassinar e vitimizar mulheres e sem destruir a população local. Da
maneira como a guerra ocorre, é uma guerra para destruir a comunidade
local e criar um espaço em que os grupos armados exploram o coltan e a
cassiterita sem controle e os exportam para o mercado mundial. Mais de 5
milhões de congoleses foram mortos, mulheres foram estupradas e
mutiladas diante de seus maridos e filhos. Há mais de 2 milhões de
deslocados.
As mulheres
As mulheres são as principais vítimas da guerra porque a violação, a
mutilação e a destruição do aparelho genital delas são utilizadas como
uma estratégia de guerra. É uma estratégia porque é utilizada de forma
deliberada. Destruir o aparelho genital das mulheres, que são o pilar da
família, sem matá-las, diante dos maridos, dos filhos e dos vizinhos, é
uma forma de destruí-las não apenas fisicamente, mas também
psicologicamente, e a seus maridos e filhos. É uma maneira de destruir o
tecido social, de destruir todos os valores, de desorganizar uma
sociedade que já não era tão organizada.” Médico congolês Denis Mukwege
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